Tem uma propaganda de carro (ruim, porque não lembro a marca) que mostra dois adolescentes andando no meio do mato. Ao cruzar um pequeno riacho, um deles pergunta para o outro o que encontrariam se subissem pelo rio. O amigo, apressado, responde que por ali não tem nada, é perda de tempo. Logo depois, a câmara filmando a cena deixa os dois e sobe pelo rio, chegando a uma cachoeira espetacular. Cachoeira que nenhum dos dois nunca verá nem saberá que existe, simplesmente por que decidiram continuar pela trilha.
Um amigo meu dizia que atalhos são uma enganação, por que se fossem bons mesmo não continuariam a ser atalhos, seriam o caminho principal. Mas a verdade é que de vez em quando precisamos sair da estrada. Mesmo que seja para ver que ali não tem nada mesmo.
Decisões são assim: muitas vezes, ao decidir por algo, na verdade estamos decidindo também abrir mão de outras coisas. Não dá para entrar em todos os caminhos que a vida oferece. Esse é o grande dilema. É ai que a vida fica bonita e interessante. É ai que fugimos do determinismo e podemos utilizar, mesmo que de maneira limitada, nosso livre arbítrio (porque 100% livres nunca seremos, temos nossa genética e educação como acompanhantes eternas, palpitando silenciosamente em todos os nossos afazeres).
Decisões realmente importantes significam, geralmente, sacrifícios importantes também. Muita gente demora em decidir por que consegue mensurar melhor a dor da perda do que a possibilidade de ganhos. E por isso não avançam na vida: mesmo vivendo uma vida medíocre, acabam imobilizados e acomodados num ciclo vicioso difícil de quebrar, temerosos do que podem perder. São correntes mentais que todos temos e que devemos lutar constantemente para não sucumbir. Temos de aprender a parar de pensar só nas perdas e pensar no que pode ser ganho, aprendido, ensinado.
De todos os habitantes no mundo, quantos terão a mesma sorte que nós tivemos, de termos saúde quase perfeita, alimentação e água limpa todos os dias, nunca termos sido torturados, podemos nos expressar livremente, votar até no mais incompetente e corrupto dos candidatos, podemos criar planos para o futuro? Somos uma minoria e nem notamos. Reclamamos das coisas mais bobas, não fazemos quase nada para mudar o que é realmente importante, acomodamo-nos numa preguiça medíocre que freia nosso desenvolvimento e nos joga na vala comum da falta de criatividade, falta de iniciativa e resultados sofríveis.
Às vezes sinto um desespero silencioso: será que utilizo 100% do meu potencial? Se somos privilegiados, é nosso dever moral contribuir com o máximo do que nos foi dado. Qualquer coisa menos do que isso pode ser muito confortável, mas constrangedoramente medíocre.
Essa é a grande pergunta hoje em dia. Como fazer realmente a diferença? Como usar ao maximo seu potencial, o da sua equipe, o da sua empresa? Como não ser engolido pela mediocridade, mesmo que bem-sucedida nas aparências, ou fisicamente? Mediocridade bem remunerada continua sendo mediocridade, certo?
É um desafio de liderança, com certeza, mas antes de tudo é uma escolha pessoal. Todos os dias escolhemos os caminhos da nossa vida. Ás vezes, pequenos atalhos desimportantes, outros nem tanto. Mas são nossas escolhas que nos levam inexoravelmente ao caminho final. Não deixe que o caminho seja medíocre. Se perder, que seja lutando com honra, que seja dignamente. Se vencer, que seja com propósito.
Somos complacentes demais. Quer fazer algo realmente útil? Diga chega a algumas coisas. O que tem de medíocre na sua vida, rondando como uma mosca chata de feira, que você espanta de vez em quando, sabendo que vai voltar? Olhe em volta, fomos escolhidos! Essa é a nossa missão. Seu destino não pode ser o de uma enxota mosca. Mate a mosca. Chega de mediocridade.
Texto extraído da revista Venda Mais, edição de outubro de 2004. Escrito por Raul Candeloro , editor desta revista. |